Há 17 anos soube que ia ser
madrinha. Pela primeira vez. Madrinha da filha da minha madrinha (e tia). A
minha relação com ela sempre foi muito próxima. É uma espécie de 2ª mãe, afinal
é esse o papel de SER MADRINHA.
Fiquei eufórica. Andava com uma lista
de nomes possíveis. Até que de um dia para o outro, muito fora do tempo, e sem
prever, ela nasceu. Com 900 gr, mais grama, menos grama. Choque total. Pânico.
Medo. Ninguém sabia muito bem o que iria sair dali.
- “Tens de ter coragem, porque
não vais encontrar um bebé como os outros”, alguém me avisou quando ia para a
maternidade.
Quando cheguei à maternidade a
minha madrinha também me disse “a nossa menina é muito pequenina”. Apesar de me abraçar a chorar, mostrou-se
muito forte e confiante, mas acho que lá no fundo não acreditava em milagres.
Também me disse: “Eu sei que tens uma lista de nomes, mas eu já escolhi o nome”.
Tive de me equipar toda, lavar e desinfetar
as mãos e……entrar. Confesso que tive de mostrar muita confiança e, perante a
minha madrinha, mostrar-me muito forte. 900 gr de gente é muito pouco. Os órgãos
já estavam todos formados. Era “perfeitinha”, mas era tão, mas tão pequenina.
Cabia na palma da minha mão. A fralda de prematura tinha de dar 3 voltas. E o (nini)
gorro??? Tapava-lhe quase os olhos. Eu tinha um Nenuco maior e o meu já era
daqueles pequenos. Lembro-me que fui a
chorar o caminho todo até casa. Lembro-me que disse à minha mãe “só um milagre”.
Há 17 anos tudo isto era novo. Há
17 anos foi uma bomba. Há 17 ninguém acreditou quando a viu pela primeira vez.
Nem a minha madrinha. Há 17 anos foi uma luta diária. Há 17 anos foi uma
conquista.
Já se passaram quase 17 e,
felizmente, todos estávamos enganados. Hoje temos uma adolescente linda. Sem
qualquer mazela da sua ansiedade de nascer.
Hoje é o dia dos prematuros. Hoje é o dia do meu “meio kg de gente”.